martedì 26 marzo 2019

6. Me leve por onde flor

Esse post é sobre trabalho. Mas é ainda mais sobre Amor.

No último sábado encerrei meus atendimentos. Foram mais de 6 anos de consultório e mais de 60 pacientes que passaram por minha poltrona e meu divã. Mais de 60 vidas impactadas pela minha escuta e minha palavra. E, ainda mais importante, mais de 60 histórias impactando a minha prática clínica e o meu coração. Dezenas de biografias riquíssimas e verdadeiras trocas (por mais que eles nem imaginem) que levo no peito, nas preces, na bagagem.

Um fim de análise “forçado” por contingências geográficas e pela escolha matrimonial da analista tem efeitos. Gosto de pensar que essa imposição precipita as questões dos pacientes. Não criei nada novo - baita viagem egocêntrica pensar que eu teria esse poder - mas a minha decisão foi agente catalisador do que sempre esteve ali:

Quem se viu paralisado pelo prenúncio de abandono, fez questão de interromper antes e me abandonar primeiro. Quem sentia-se em culpa por traições, encontrou dificuldade de ser encaminhado… afinal, ir com outra seria me trair. Quem vivia sua vida na rígida ilusão do “tudo sob controle”, se viu importunado pela minha mudança de rota fazendo com que seus planos “saíssem do script” e tiveram que se haver com isso. Será que estamos mesmo no controle? Poderia passar a tarde escrevendo… porque eles me fascinam.

Meus pacientes fizeram percursos interessantíssimos. Lindos! Cada um com sua lente.

Victor, 9 anos, chegou há 2 anos com queixa de angústias frente à morte e passou sua última sessão desenhando uma fênix que, segundo ele, era o símbolo da mitologia egípcia para a possibilidade de continuar vivendo após as cinzas. Renascer depois dos fins da queimadura final. Desenhamos ainda as quatro estações, as quatro fases da lua e sorrimos com a beleza da Natureza em nos pintar a morte de modo tão poético, orgânico e otimista. Victor não tem mais ataques de ansiedade.

Mel, 22 anos, passou a anunciar meses antes da minha partida o quanto seria difícil encerrar as sessões Ela é uma moça nostálgica que se auto declara “em dificuldades com lutos e despedidas” (me pergunto quem não é), esperneia com perdas (quem nunca?) e tem batido a cabeça com as imposições da vida que a arrebatam sem que possa escolher: é que os últimos anos a tem surpreendido com o incontornável das mortes, diluições, términos… de modo que a ida da analista é só a cerejinha no bolo dos anos de privações. Acontece que, em meio ao sofrimento da última sessão, a associação livre a levou à mitologia grega (meus pacientes estão muito junguianos essa semana!). Mel revela que adora Hades e Perséfones, os deuses do submundo e que sempre os considerou injustiçados pelas demais deidades do Olimpo. “Ele era excluído apenas por fazer o seu trabalho. Seu serviço era a morte e dela se ocupava. O que há de mal nisso? Alguém precisava fazer esse trabalho”. E Perséfone deve trazer o inverno, matar as plantas e refazer a agricultura para a próxima primavera. Deixo as interpretações com vocês… conto só que, entre lágrimas, ela se foi em paz e com fé em Hades.

E tem Joana, 12 anos. Em terapia desde os 9. Esse doce de menina lamentava-se inicialmente da timidez e dos episódios de ansiedade que aprendeu a relacionar com seu perfeccionismo. Tanta necessidade de ser correta a enrijecia da cabeça aos pés… o cortisol explodia na perda da fala em ambientes públicos, no medo de errar e na taquicardia. Começamos a falar sobre esse temor, a respirar, a bordar. O bordado lhe deu borda. Quando se sentia aflita, pegava o bastidor, as linhas e a agulha. Seu último trabalho foi o balão colorido da animação “Up!”. A danadinha alçou voo! Com muito entusiamo, começou a me contar que estava mais leve, que o “dia da prova nem parecia dia de prova” e que as atividades orais em sala não eram mais um pesadelo. Agora ela topa não tirar apenas 10; descobriu que o 7 e o 8 podem ser muito salutares (às vezes mais que o 10!) e me deu de presente na nossa última semana essa obra de arte confeccionada inteiramente por ela:





Ao entregá-lo, se divertiu contando que tentou lavar o pano mas “a caneta do esboço não saiu”, de modo que teria que dar-me-lo (adoro mesóclise!) “assim imperfeito”. Digo a ela que é uma imperfeição adorável e libertadora! Me fará lembrar sempre do quanto ela pode se permitir… do quanto pode aceitar que as coisas não estejam mais no seu comando inflexível. Inclusive a interrupção de sua terapia (que ela desejaria “fazer para sempre”) pode findar deixando-a saudavelmente incompleta e (im)perfeita.

Os seres humanos são maravilhosos. Meus pacientes são maravilhosos. Infelizmente, tive que me restringir a três vinhetas, pois a grandeza e a fertilidade de suas trajetórias me requereriam páginas e mais páginas.

Em uma semana chego na Itália. A imperfeição radiante de Joaninha virá na mala, se fixará à parede e me lembrará da leveza dos fins. Levo todas essas vidas por onde for e onde flor. Pois a vida está onde floresce. E onde houver morte - não se aflija - lá também há potência. É apenas o deus Hades fazendo o seu trabalho.

* nomes fictícios para preservar o sigilo da identidade dos pacientes

martedì 19 marzo 2019

5. Os italianos falam

Os italianos falam. São trocentos dialetos*, além do idioma oficial, falados em um pequeno território (a Itália é menor que o Maranhão). Fora as gírias, fora as variantes - alguns sites me apontaram 11.000 variantes do italiano!! 11 fucking mil diferentes línguas! E segundo consta, 60% da população usa estritamente ou alterna com o italiano fiorentino (escolhido como oficial na Unificação da Itália no século XIX) os seu dialetos locais.


Historiadores dirão que a riqueza da língua de Dante se dá pela divisão e colonização do país por outros povos após a queda do Império Romano. Ok, acredito nos historiadores. Mas a mim fascina o fato de a pluralidade da língua ser mais um elemento de sustentação do argumento desta crônica: eles falam pra burro. Com a boca, com a mão, com as duas mãos, com o cotovelo, com os olhos… quase quero ser uma youtuber (só agora) para fazer um vídeo de todos os gestos hilários que descobri no último ano. Tenho um preferido: quando as crianças querem dizer que uma comida é gostosa, elas parafusam a bochecha com o dedo indicador*. É fofo e bizarro ao mesmo tempo. Amo. Quero ter um filho italiano só para ele parafusar a bochecha em reverência ao meu brigadeiro.


Para além do falar, esconde-se algo bem mais profundo: os italianos falam as coisas. Sim, as coisas. Essas que a gente tem dificuldade de falar. Essas que machucam (nós e/ou os outros). Essas que dá vergonha de dizer. Eles falam. 

Olhando para atrás, não me espanto de uma das primeiras palavras que aprendi com meu atual marido ter sido: permalosa. Até hoje nutro ranço por essa palavra. Sua significação? Melindrosa. É lógico que odeio essa palavra até hoje! Andrea havia jogado na minha cara, tal qual um psicólogo precipitado, toda a verdade à qual eu ainda não tinha acesso e nem condições emocionais de aceder. Fiquei feroz. Descobri que era melindrosa e não era pouco não.

“Non mi piace.” “Non sono d’accordo”. “Stai sbagliando”*. Entre brigas e choros (que marcaram praticamente o primeiro semestre inteiro do nosso namoro - somos masoquistas ou nos amamos muito?) eu experimentei um misto de ódio, inveja e tesão por aquela capacidade natural de crítica. Como alguém consegue ser tão objetivo para dizer do que lhe desagrada? Ele é escroto ou isso aí é auto-amor? 

Fui para Roma: mesmo fenômeno! O roomate de meu namorado (pessoa queridíssima, adoro) me corrigia de prontidão quando não gostava de algo que eu fazia (lembrem que eu havia acabado de conhecer esse cara. No Brasil ele seria um grandíssimo sem noção). Minha sogra também: me adotou como filha e já a amei desde o primeiro dia. Entretanto, era e é direta e reta para desaprovações: “o chá tá fraco”, “o jeito de lavar a roupa tá errado”, “quem fez isso?”. Eu tinha feito… e ela sabia.

Para um ser humano neurótico como eu de tipologia agradável-fofinha-não-quero-te-magoar (e por favor não me magoe também!), os habitantes da bota eram deuses supremos da palavra, reis das vozes e das notícias (fossem elas boas ou más). Eu me indagava de onde viria tamanha… não consigo dizer virtude porque PQP, eles conseguem ser rudes como verdadeiros selvagens… mas havia admiração ali. Era o típico “credo, que delícia”. Como eu faria para beber só um pouquinho daquele elixir de sinceridade e objetividade? Seria alguma herança genética ou simbólica dos gladiadores romanos?

Não era. Encontrei um primo, na semana passada, que morou quatro anos em Turim, no norte da Itália. Conversa vai, conversa vem, chegamos à minha pauta. Meu primo é um lord; um brasileiro gentilíssimo. E saber de sua natureza cortês me deixou duplamente chocada quando ele me confessou entre risos: “Voltei um animal da Itália!” Percebi que éramos dois: rimos feito hienas enquanto ele me confidenciava que 4 anos de trabalho em Torino o haviam transformado em um funcionário sem noção com discurso afiado e sem papas na língua. A certo ponto os colegas precisaram lhe chamar a atenção: “Cara, segura a onda”. 

BINGO! A amostra de sujeitos de minha pesquisa havia aumentado naquele exato momento. Segurar a onda? Qual onda? A onda de grosseria italiana ou o tsunami de melindre americano? 

Meu gringo defenderia que somos drama queens. Para Andrea, “vocês americanos são cheios de sorrisos, como se estivesse tudo bem, para depois adoecerem…” mas calma! Não nos apressemos em concluir nenhum estereótipo…

Não posso refutar a teoria - endossada por Hollywood - que aqui tudo acaba em pizza (ou em beijo de felizes-para-sempre em algum lugar da Califórnia). Por outro lado, não disfarço que me farto de orgulho do nosso riso fácil, da simpatia do brasileiro, da cultura de querer criar crianças educadas. Acho lisonjeante valorizar a boa-educação e os licenças, obrigados, por favores (e nessa fila, muitos italianos não passaram - que medo de traduzir esse texto!) Desculpem, meus futuros irmãos de Pátria, mas que atire a primeira pedra quem nunca tomou um coice itálico! 

O ponto que me seduz é justamente encontrar essa clivagem: como desmembrar a íntegra e digna honestidade italiana dessa indelicadeza que a acompanha? Ou então, como desanexar a nossa amabilidade do ressentimento que chega como subproduto?

Honestamente (estou aprendendo!), eu não sei. Sei apenas que eu terei uma grande tarefa educacional: quero criar filhos que - além de parafusar a bochecha - tenham uma fala genuína e se sintam livres para se expressar sem medos excessivos de ferir o outro. Mas ai de quem não disser “grazie”, “scusa” ou “per favore” com um largo sorriso alla brasiliana. Vai tomar coice. 

Complexo de sinceridade? Deus me livre, mas quem me dera.


* trocentos dialetos: não encontrei o número exato. Os sites de estudo das línguas italianas são inconclusivos, mas as variantes giram em torno de dez mil;
* gestos italianos: para a parafusada infantil, assistir 43' do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=rVR9cZ4tii0
* non mi piace/ non sono d'accordo/ stai sbagliando: não gosto disso/ não concordo/ você está errado(a)






4. Il cielo di Roma è più blu

“Il cielo di Roma è più blu” mi ha detto una volta, prima che io  avessi conosciuto la capitale italiana, una delle mie più care amiche. Lei è poetica, bibliofila, innamorata dell'Italia e sa come citare Bethania* a memoria; è una di quelle persone viscerali fino all'ultimo capello. Per questo motivo, ho trovato mega invitante l'idea di andare in una città con un cielo extra-blu, ma ho mantenuto la sanità mentale e la saggezza di dubitare dei romantici.

Ho fatto bene! Abbassare le aspettative promuove sorprese! Non è che la maledetta aveva ragione? Boh, non lo so se è davvero più blu...  ma che la città dà uno spettacolo di colori la sera, questo non posso negarlo. Gli scettici diranno che è perché le persone qui a San Paolo sono sempre rintanate in degli edifici e che quando usciamo, ci sono grattacieli e monossido di carbonio per tappare la visuale. Preferisco pensare che Roma è magica.

Nelle quattro stagioni la Città Eterna è uno schianto. Dietro ponti e monumenti millenari esplodono combinazioni policromatiche che nessun arcobaleno brasiliano ha mai riprodotto (Sto esagerando. Anche a Foz do Iguaçu è incredibile, ma il blog è di Roma, le farò un marketing...). Il fatto è che è davvero un bel cielo e sono sempre stupita. Avere un cielo fico è così vantaggioso che rende anche il momento di aspettare gli autobus meno angosciante. Roma distribuisce dei regali.

Ma come ho detto nell'ultimo testo, non ci sono guadagni senza perdite, vero? E questa cosa, lei (la mia amica fan del Romanticismo) l'ha omessa. I romantici omettono sempre il lato B della storia per sedurti!

Roma non è solo quella che regala. Roma è la buona madre che nutre e punisce, è lo psicoanalista che ti accoglie e poi ti castra. Roma ti dà tutte le sfumature celesti e poi ti manda il conto. E arriva ... insieme all'autobus:

L'autobus alle sei di sera nel centro di Roma. Sono così meravigliata del tramonto che quasi non lo vedo arrivare. Salgo. Il solito: tutti alzati, tremanti, la gente senza deodorante. È tosta, ma sto bene. Vengo dal Brasile e posso sopportare più di quanto tu possa presentarmi, cara Roma. Bella mia, sai che cos'è il treno a San Paolo? That's what I'm talking about... Quindi rimango tutta contenta e seguo flirtando con le strade che vedo tra le ascelle. Il viaggio continua e comincio a capire che solo io sono ancora "contenta" su quell'autobus. I miei compagni di viaggio sono esaltati (più di quanto gli italiani di solito si esaltino per natura - che è gia un po' troppo!) e il casino inizia. Fra le bestemmie e i vaffan#$% mi concentro sulla pratica dell'ascolto per capire i nativi.

E li capisco! La mia insegnante sarebbe felicissima! Ma io sono perplessa... tutto mi fa pensare che stiamo andando nella direzione sbagliata. Alcuni più ansiosi (e ammiro me stessa per non stare in questa categoria) stanno già iniziando a scendere dall'autobus; non senza prima maledire l'autista. Chiedo a una studentessa schiacciata nello stesso angolo mio se può spiegarmi quello che succede. Molto arrabbiata, la ragazza ringhia un "benvenuta in Italia" e comincia a lamentare la precarietà del sistema di trasporto a Roma, mi racconta che ha già vissuto a Londra e blah, blah, blah ... dice che solo in Italia le cose fanno schifo e che probabilmente hanno cambiato il percorso di quella linea. Sorrido maliziosamente e mi viene voglia di invitarla a fare un viaggetto in Brasile, ma vengo interrotta. Un ragazzo ha un'altra teoria su quello che è successo: "Penso che l'autista abbia sbagliato strada".

Sono scioccata.
Ha sbagliato strada?
Santo Cristo! Qui esiste questa cosa?

Gli altri romani approvano l'ipotesi. "Sì, si sarà confuso. Invece di fare il percorso del 417, sta facendo il 915B *. "

Ragazzi, che ca@#$ state a dì?? Gli autisti di Roma sbagliano strada? Davvero esiste questa cosa qui?

È un po' come se io confondessi la storia della vita di due pazienti! Oppure come se il dottore amputasse la gamba del tizio con l'appendicite! È come se annunciassi un testo sull'aurora boreale e improvvisamente vi sorprendessi con l'economia di transizione del Vietnam!! Come mai l'autista doveva andare a nord e ci sta portando a sud? E lo trovate normale?

È interessante notare che il "condutor de ônibus" in italiano venga chiamato "autista". Non è uno scherzo. Sto pensando molto seriamente a questo termine. Faccio spesso la cretina, ma non ne farei mai l'umorismo, anche perché ho lavorato molto con l'autismo e molti di loro hanno conquistato il mio cuore, li amo per sempre. E anche se non conosco molti conducenti di autobus, non ho nulla contro di loro. E le generalizzazioni sono orribili.

Avendo fatto il paragrafo in mia difesa, vi invito a pensare a questa pazza parola con me. "Autista" ha il prefisso autós di etimologia greca che significa "se stesso" e fu usato dallo psichiatra tedesco Bleuler nel 1908 per riferirsi alla scarsa interazione con altre persone in pazienti schizofrenici. Ovviamente, la lingua italiana non intendeva i disturbi psichiatrici quando ha creato la sua parola "autista" per i guidatori; credo intuitivamente che questo auto sia quello di automobile, alludendo alla nozione di veicolo, macchina. Ok, è abbastanza ovvio. Ma allora che senso ha essere auto? Perché di se stesso?

L'autista non è il cittadino comune che guida l'AUTOmobile, il mobile suo o per se stesso. Questo grande funzionario guida l'ALTERmobile! (alter dal latino "ciò che è l'altro, il non-io", da cui deriva alterità, alter ego, ecc.). In teoria (perché molte cose sono solo nel campo teorico a Roma ... sounds familiar, Brazil?) e solo in teoria, l'autista dovrebbe guidare per il bene collettivo, per il popolo, per il BENE comune (chiaramente non stavamo bene). Quindi, sarebbe estremamente conveniente per noi trasmutare l'auto in alter (Penso anche che nel caso del trattamento dell'autismo - condizione psichica - sia proprio l'alter che può dare un nuovo aspetto, ma questa è un'altra storia ...)

Il fatto è che il tipo che ci ha trasportati quel giorno era più assorbito da se stesso di qualsiasi paziente che abbia mai attraversato la mia storie, e ha aderito fedelmente al termine italiano. Non sapremo mai cosa è successo: se stava deviando una buca (comune nelle città storiche) e ha cambiato rotta, se si è svegliato imbronciato e ha voluto prendere in giro tutti, oppure se il suo stato di egocentrismo era così grande che finora non si è ancora reso conto di aver fatto un casino nella nostra vita quella sera.

Il mio sogno è che tutti i conducenti di Roma (di autobus, macchine, motorini, monopattini) diventino tutti degli alteristi e che possano prestare più attenzione l'uno all'altro. Perché il modo di guidare dei romani è atroce (e sì, ho appena fatto una generalizzazione orribile), ma questo tema merita un capitolo a parte...

Sono arrivata a casa quel giorno un'ora più tardi. Stanca, perplessa, ma sotto un firmamento osceno di tante stelle! Ho sorriso in silenzio. Se parte dell'amore è il dolore, l'altra è il godere...

Eh, amico mio. Non si può avere tutto.  Ora tocca a te. Vuoi una tempesta di neve sull'invidiabile metro di Zurigo? O vuoi il crazybus della città dal cielo blu? Rinunce, cari miei, rinunce ...

Nota curiosa piena d'amore: Il colore blu simboleggia la Giornata mondiale per la consapevolezza dell'autismo, celebrata il 2 aprile. La data è importante per contrassegnare gli sforzi nella lotta per l'inclusione e l'attenzione qualificata ai pazienti con diagnosi di Disturbo dello spettro autistico (ASD).

*Maria Bethânia: Cantante brasiliana nota per i suoi testi lirici e tremendamente romantici;
*915B: Linee immaginarie, non riesco a ricordare i numeri


Quel giorno...

martedì 12 marzo 2019

4. O céu de Roma é mais azul

“O céu de Roma é mais azul” disse-me certa vez, antes de eu conhecer a capital italiana, uma de minhas mais caras amigas. Ela é poética, bibliófila, apaixonada pela Itália e sabe citar Bethânia de cor; é daquelas pessoas viscerais até o último fio de cabelo. Por essa razão, achei mega convidativo ir para uma cidade com céu extra-azul, mas mantive aquele pé atrás de quem tem a sanidade de duvidar dos românticos. 

Arrasei! Baixar as expectativas fomentam surpresas! Não é que a danada estava certa? Olha, se é mais azul eu não sei… mas que a cidade dá um show de cores no entardecer, aí eu vou ter que assinar embaixo. Céticos dirão que é porque a gente aqui em SP está sempre enfurnado em prédio e que, quando sai, tem arranha-céu e monóxido de carbono para tapar a visão. Eu prefiro pensar que Roma é mágica.

Nas quatro estações a Cidade Eterna é um desbunde. Por trás de pontes e monumentos milenares explodem combinações policromáticas que nenhum arco-íris brasileiro jamais reproduziu (estou exagerando. Em Foz do Iguaçu também é assombroso, mas o blog é de Roma, vou puxar a sardinha…) O fato é que é um céu bonito pra valer e eu não canso de me surpreender. Ter céu maneiro é tão vantajoso que torna até o momento de esperar ônibus menos ansiógeno. Roma distribui presentes.

Mas como eu disse no último texto, não tem ganhos sem perdas, vero? E isso ela (minha amiga fã da Bethânia) omitiu. Os românticos sempre omitem o lado B da história para te seduzir!

Roma não é apenas aquela que presenteia. Roma é a boa mãe que alimenta e que pune, é o psicanalista que te acolhe e depois te castra. Roma te dá todos os matizes celestes para depois mandar a conta. E ela chega… junto com o ônibus:

Busão às seis da tarde no centro de Roma. Eu maravilhada com o tramonto quase não o vejo chegar. Subo. Esquema de sempre: ficar em pé, balançar, gente sem desodorante. Foda, mas estou bem. Sou paulista e tolerante a muito mais do que você pode me apresentar, Roma. Roma querida, você sabe o que é Sé?? Pois é. Sigo plena paquerando as ruas que passam pela fresta da janela que consigo ver em meio às axilas. A viagem continua e começo a me dar conta que apenas eu continuo plena naquele ônibus. Meus colegas-passageiros se exaltam (mais do que os italianos costumam se exaltar por natureza - que já é bastante!) e a algazarra se instala. Em meio a blasfêmias e “vaffanculos” concentro-me empenhada no exercício de ascolto a fim de compreender os nativos.

E compreendo! Minha professora ficaria feliz! Mas eu estou perplexa… tudo indica que estamos indo pelo caminho errado. Alguns mais ansiosos (e me admiro por, pela primeira vez na vida, não estar nessa categoria) já começam a descer do ônibus; não sem antes xingar o motorista. Pergunto a uma estudante espremida no mesmo cantinho que eu se ela poderia me explicar o que estava acontecendo. Muito raivosa, a universitária rosna um “benvenuta in Italia” e se põe a lamentar da precariedade do sistema de transporte em Roma, diz que já morou em Londres e blá, blá, blá… que só na Itália as coisas são uma merda e que provavelmente mudaram a rota dessa linha. Sorrio maliciosa e quero quase convidá-la a passar uma temporada no Brasil, mas sou interrompida. Um rapaz tem outra teoria sobre o ocorrido: “Acho que o motorista errou o caminho”.
Travei
Ele ERROU O CAMINHO?
Cristo Santo! Isso existe aqui?

Os outros romanos endossam a hipótese. “É, ele deve ter se confundido. Ao invés de fazer o percurso do 417, está fazendo o do 915B*.”

Gente, como assim?? Os motoristas de Roma ERRAM o caminho? Isso existe?

Isso é tipo eu confundir a história de vida de dois pacientes! É tipo o médico amputar a perna do cara com apendicite! É tipo eu anunciar um texto sobre a aurora boreal e subitamente surpreender-vos com a economia em transição do Vietnã!! Como assim o motorista tinha que ir para norte e está nos levando para sul? E vocês estão achando normal?

Vale um parêntese aqui para informar-vos que “motorista” em italiano se diz “autista”. Proprio così. Não é uma piada. Estou pensando nesse termo muito seriamente. Sou metida à fanfarrona, mas jamais faria humor com isso, até porque trabalhei muito com autistas, vários deles ganharam meu coração para todo o sempre e, apesar de não conhecer muitos motoristas de ônibus, não tenho nada contra eles. E generalizações são escrotas.

Feito o parágrafo em minha defesa, vos convido a pensar comigo essa maluquice de palavra. Autista tem como prefixo autós de etimologia grega que significa “si mesmo” e foi usada pelo psiquiatra alemão Bleuler em 1908 para se referir à escassa interação com outras pessoas em pacientes esquizofrênicos. Obviamente, a língua italiana não se reportava a transtornos psiquiátricos quando pariu a sua palavra “autista” para condutor; chuto intuitivamente que esse auto se reporte aquele de automóvel, aludindo à noção de veículo. Beleza, é meio óbvio. Mas então que sentido faz ser auto? Por que em relação a si mesmo?

O motorista de ônibus não é o cidadão comum que conduz o AUTOmóvel, o móvel de e para si próprio. Esse grande funcionário público guia o ALTERmóvel! (alter do latim “aquele que é o outro, o não-eu”, daí advém alteridade, alter ego, etc). Em teoria (porque muitas coisas ficam apenas no campo teórico em Roma… sounds familiar, Brazil?) e somente em teoria, o autista deveria dirigir para o coletivo, para o popular, para o BEM comum (claramente não estávamos bem). Assim, seria extremamente conveniente que transmutássemos o auto em alter (penso igualmente que no caso do tratamento do autismo - condição psíquica - é justamente o alter que pode trazer um novo olhar, mas essa é outra história…)

O fato é que o sujeito que nos transportava aquele dia era mais ensimesmado que qualquer paciente que já cruzou a minha história e o moço se ateve fielmente ao termo italiano. Nunca saberemos o que aconteceu: se ele estava desviando de um buraco (comum em cidade histórica) e mudou a rota, se acordou de ovo virado e quis sacanear todo mundo, ou se o embotamento era tanto que até agora não percebeu que causou na nossa vida naquele fim de tarde.

Meu sonho é que todos os motoristas de Roma (de ônibus, carros, lambretas e patinetes) virem todos alteristas e passem a se relacionar mais com o outro. Porque o modo de dirigir dos romanos é atroz (e sim, acabo de fazer uma generalização escrota), mas isso merece um capítulo à parte…

Cheguei em casa aquele dia uma hora mais tarde. Cansada, perplexa, mas sob um firmamento obsceno de tanta estrela! Sorri em silêncio. Se parte do amor é doer, a outra é gozar...

Pois é, meus amigos. Não se pode ter tudo. Agora é você que escolhe. Quer tempestade de neve no metrô invejável de Zurique? Ou quer o crazybus da cidade do céu azul? Renúncias, meus caros, renúncias…

Nota curiosa cheia de amor: A cor azul simboliza o Dia Mundial pela Conscientização pelo Autismo, celebrado em 2 de abril. A data é importante para marcar os esforços na luta pela inclusão e atenção qualificada aos pacientes diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

*915B: Linhas fictícias, não lembro os números


No ponto de ônibus do fatídico dia

lunedì 11 marzo 2019

3. Bisogna amare per non ammalarsi

(ATTENZIONE: Questo testo è eccezionalmente più lungo per la ragione: "me ne sto andando e sono sensibile". Nei prossimi testi sarò più succinta. Lo prometto).

L'anno inizia; il carnevale è finito*. La mia stanza è vuota; le valigie piene. Ho esattamente un mese per salire a bordo dell'aereo e iniziare a chiamare Roma casa mia. Automaticamente (e senza via di fuga) guadagnare l'Italia mi fa perdere la mia madre terra brasiliana. Benvenuti al mio festival di ambivalenze: passo dall'estasi al pianto in un intervallo di poche ore e non è SOLTANTO perchè sono gemelli (prevedo delle battute astrologiche). Il mio inconscio si è messo a funzionare a tutto vapore in un meccanismo compensativo extra-bipolare equazionando il saldo di questa storia. E qualsiasi cosa è un grilletto!

Il vicino nell'ascensore con il suo ordinario "que calor eh?" attiva subito le mie sinapsi super folle che se mettono a gioccare un ping-pong nevrotico:

"Perderò il clima tropicale. Detesto l'inverno"
"Si ma amo la neve"
"Eh, ma dove c'è neve non c'è l'avocado e io non vivo senza avocado"
"Vabbè, non c'è avocado ma c'è sicurezza..."
"È vero, in Europa non ho paura di morire con un proiettile perso"
"Ah, ma ci sta il terrorismo!"
“Si, vabbè, ma subire un attacco terroristico mangiando un gelato non è così brutta come idea. Il gelato italiano è una bontà e qui in Brasile non lo sano fare..."
“Ah, parlando di cibo, chissà se mangierò ancora le lasagne di nonna?"

Vi risparmierò la progessione  della mia masturbazione mentale. In realtà, potrei anche sguazzare in un fango di clonazepam e comunque la questione non si risolverebbe. L'angoscia rimane. 

Freud ha scoperto (molto prima che io comprassi il biglietto e entrassi in stato di ansia maniaco-depressiva) che non possiamo scappare del buco esistenziale. Si può solo toccarlo tangenzialmente. Da sempre. Perdiamo l'utero per guadagnare il mondo. Poi il grembo per guadagnare le gambe. E così avanziamo ... Continuiamo la nostra vita accetando (oppure no) di perdere e di guadagnare; e rimuginando questa matematica psichica come ci conviene. Aprire nuovi cicli richiede lutto.

Da queste parti, vedo un laboratorio interessante: mamma non smette di sottolineare quanto le mancherò, però ha raggiunto il livello avanzato di italiano e ha deciso di arredare magnificamente il suo nuovo appartamento per la prima volta nella vita. Mio fratello probabilmente sentirà il peso e la mancanza di non poter più condividere le delizie e i dolori familiari, ma ha trovato geniale avere una casa a Roma per le vacanze. Lui ama Roma e ha parlato italiano con perfezione un decennio prima di me. Papà oscilla tra aiutarmi con le procedure fiscali del trasloco,  festeggiare il mio coraggio di amare e lamentarsi per la morte della figlia-bambina. E c'è nonna... la mia versione di lutto preferita! Nonna Maria (e il suo sangue caldo spagnolo) ha anche litigato con il mio fidanzato, per cui nutre vero affeto, ma attribuisce la colpa della mia partenza. Nonna reclama ogni settimana per mio trasferimento... e troppo! Senza imbarazzo! Tuttavia ha ricamato sei strofinacci per la mia casa romana. E ha scaricato Skype.

È emozionante vedere la singolare elaborazione di lutto della mia famiglia e dei miei pazienti e di un mondo intero di homo sapiens sapiens. Ciascuno fa quello che può e accetta di fare con le sue risorse. Anche io ho fatto quello che ho potuto...

Se sei un amico mio, un parente, un avocado o anche il sole, sappi che non è stato facile lasciarti.

Ho fatto e rifatto la contabilità del mio cuore mille volte prima di lasciare indietro le migliaia di gioie che mi avete dato. Non avrei mai lasciato il Brasile se non mi fossi innamorata. Mai. Non l'avrei lasciato né per la politica, né per la criminalità, né per il prezzo della benzina, né per niente. Onoro e amo questa terra più di quanto amo i miei gatti (e amo molto i miei gatti).

Ma si dà il caso che io mi sia innamorata. No, no di Roma! La cosa con la città è venuta molto dopo... chi mi ha fatto abbandonare il Brasile è stato il suo contrario. L'aigologia di Roma si è rivelata per me attraverso un gringo con occhi lussureggianti e grande cuore. Un uomo che amo profondamente e che si dà quasi per intero per me. Tanta dedizione sarebbe anche smisurata se non fosse per il suo senso critico, il suo istinto per l'amor proprio e la sua disciplina ammirevole. Un uomo che mi intorpidisce con affetto e libido, eppure costruisce la cornice di cui ha bisogno la mia isteria. Mi rende meno egoista. Lo amo molto.

E quando si ama molto, si diventa immensi di coraggio e la vita coglie l'opportunità di presentarci sfide che mettono in gioco il nostro rapporto io-altro. Essendo vanitosa, ho sempre prevalso troppo sulla relazione speculare tra me e me stessa. Ero piena dei miei pronomi possessivi: io e il mio lavoro, il mio nuoto, la mia meditazione... (notate che essere psicoanalista, nuotare e meditare sono attività molto solitarie - ma il premio di questo insight non è stato mio. È stata solo una bastonata dolorosa dalla mia analista...)

Il "problema" è che Andrea-italiano-passionale-Venere-in-Leone colpiva  il mio egoismo giorno dopo giorno invitandomi ad una vita intensa per due: impegnativa, piena di rinunce... però una festa di vitalità e giubilo. Era amore in una forma che non conoscevo prima. Petulante nel modo in cui solo lui sa come essere, il mio gringo mi invitava a non relazionarmi più al mio ego e ai miei possessivi, ma a rompere lo specchio di Narciso e  ad aprirmi all'altro. Con tutte le implicazioni e le difficoltà che ciò richiedeva.

Nel 1914, nell'Introduzione al Narcisismo, Freud afferma: "Alla fine, bisogna amare per non ammalarsi". Con due significanti "Lieben und Arbeiten", Freud condensa l'esistenza umana: l'amore ci tiene investiti libidinosamente, il lavoro ci dà un posto nel tessuto sociale.

Continuare in Brasile tradirebbe il mio desiderio e non perdono l'auto-tradimento. L'auto-tradimento ti fa star male.

Ed è qui che ho preso la mia decisione. Senza muovermi, ho realizzato che la bilancia pendeva sopratutto su un lato e ho capito che potrei tessere nuovamente la mia sfera sociale in Italia. Tuttavia, non potevo vivere a San Paolo senza amore. Si paga un prezzo molto alto per non vivere, per non amare.

A quelli che lascio, offro un altro po' di Freud. Il padre della psicoanalisi ha detto che dietro qualcosa di terminabile c'è sempre uno sfondo interminabile. E quindi, cari miei, seguo i nostri interminabili... li porto nel mio cuore, perché tanta ricchezza non si adatta ai 23 kg di bagaglio. Così sono più leggera ... piena di gratitudine, entusiasmo e un po' di dolore. Ma io vado ... Bisogna amare per non ammalarsi.

*L'anno inizia; il carnevale è finito: in Brasile si dice che l'anno inizia soltanto dopo il Carnavale.



Ricamo by @broderiepourlavie

martedì 5 marzo 2019

3. É preciso amar para não adoecer

(AVISO: Esse texto é excepcionalmente mais longo por razões de "tô me despedindo e tô sensível". Nos próximos vou maneirar, prometo)

O ano se inicia; o carnaval acabou. Meu quarto se esvazia; a mala já lotou. Tenho exatamente um mês para embarcar num avião e passar a chamar Roma de lar. Automaticamente (e sem escapatória) ganhar a Itália me faz perder a madre terra brasileira. É dada a largada ao festival de ambivalências: consigo passar do êxtase ao pranto em um intervalo de horas e não é SÓ porque sou geminiana (prevejo piadas). Meu inconsciente deu para funcionar a todo vapor num mecanismo compensatório pra lá de bipolar equacionando os saldos dessa história. E qualquer coisa é gatilho! 

O vizinho no elevador com seu ordinário “que calor hein?” ativa subitamente minhas sinapses doidonas que se põem a jogar um ping-pong neurótico:

“Vou perder o clima tropical. Odeio inverno.”
“Tá, mas amo neve.”
“Porém na neve não tem abacate e eu não vivo sem abacate”.
“Não tem abacate, mas tem segurança…” 
“É verdade, lá não tenho medo de bala perdida.”
“Ah, mas tem terrorismo.”
“Justo, mas morrer de ataque terrorista comendo gelato eu topo. Gelato é demais e aqui no Brasil estão apenas começando a produzir…”
“Falando em comida, será que vou comer de novo a lasanha da minha avó?” 

Vos pouparei da progressão da minha masturbação mental. A verdade é que eu poderia chafurdar em um lamaçal de Rivotril e, ainda assim, a questão não se resolveria. A angústia permanece. 

Freud descobriu (muito antes de eu comprar a passagem e entrar em ansiedade maníaco-depressiva) que não conseguimos fugir do furo existencial. Pode-se apenas tangenciá-lo. Desde sempre. Perdemos o útero para ganharmos o mundo. Depois o colo para ganharmos pernas. E assim se desenrola… Seguimos vida afora topando (ou não) perder para ganhar e ponderando essa matemática psíquica como melhor nos convier. Novos ciclos exigem lutos. 

Por aqui está um laboratório interessante: minha mãe não cessa de frisar a falta que eu vou fazer, mas está no nível avançado de italiano e está, pela primeira vez na vida, decorando um apartamento novo e todinho seu com a sua carinha. Meu irmão provavelmente sentirá a distância e o peso de não compartilhar as delícias e dores familiares, mas achou genial ter uma casa em Roma para ficar nas férias. Ele ama Roma e falou italiano com perfeição uma década antes de mim. Meu pai oscila entre me ajudar com os trâmites fiscais da mudança, celebrar a minha coragem de amar e lamuriar a morte da filha-criança. E tem a minha avó... minha versão de luto preferida! Dona Maria (e seu sangue quente espanhol) já até brigou com meu namorado, por quem ela tem verdadeira paixão, mas atribui a culpa da minha partida. Nonna reclama semanalmente da minha mudança… Reclama mesmo! Sem constrangimento algum! Entretanto bordou seis panos de prato lindíssimos para a minha nova casa. E baixou o Skype. 

É emocionante ver a singular elaboração do luto de minha família e dos meus pacientes e de um mundo inteiro de homo sapiens sapiens. Cada um faz o que pode e o que topa fazer com seus recursos. Eu também fiz o que pude…

Se você for um amigo meu, um parente, um paciente, um abacate ou mesmo o sol, saiba que não foi fácil te deixar. Fiz e refiz a contabilidade do meu coração mil vezes antes de deixar para trás as milhares de bênçãos e alegrias que vocês me deram. Eu jamais deixaria o Brasil se não houvesse me apaixonado. Jamais. Não o deixaria nem pela política, nem pela criminalidade, nem pelo preço da gasolina, nem por nada. Eu honro e amo essa terra mais do que eu amo os meus gatos (e eu amo muito os meus gatos).

Acontece que eu me apaixonei. Não, não foi por Roma! A coisa com a cidade veio bem depois… quem me fez deixar o Brasil foi o seu contrário. A aigologia de Roma revelou-se para mim através de um gringo de olhos exuberantes e coração farto. Um homem que amo profundamente e que se dá quase inteiro para e por mim. Tanta dedicação seria até descomedida não fosse seu senso crítico, seu instinto de auto-amor e sua disciplina admirável. Um homem que me entorpece de afeto e libido e que, ainda assim, dá toda a borda que minha histeria precisa. Me dá moldura sem abreviar meu espaço. Me faz menos egoísta. Eu o amo muito. 

E quando a gente ama muito a gente fica imenso de coragem e a Vida aproveita para nos apresentar desafios que coloquem em jogo nossa relação eu-outro. Vaidosa que sou, sempre prezei em demasia pela relação especular eu-eu mesma. Era cheia de meus pronomes possessivos: eu e meu trabalho, minha natação, minha meditação... (reparem que ser ser psicanalista, nadar e meditar são todas atividades muito solitárias - mas o prêmio desse insight não é meu, não. Foi porrada da minha analista mesmo...)
Acontece que Andrea-italiano-passional-com-Leão-em-Vênus golpeava meu egoísmo dia-após-dia convidando-me a uma vida intensa a dois: desafiadora, renunciadora... porém um banquete de vitalidade e deleite. Era amor sob uma forma que antes eu não conhecia. Petulante do jeito que só ele sabe ser, meu gringo me convidava a não mais me relacionar com meu ego e meus possessivos, mas quebrar o espelho de Narciso e abrir-me para o outro. Com todas as implicações e dificuldades que isso exigisse. 

Em 1914, na Introdução ao Narcisismo, Freud afirma: "Em última análise, precisamos amar para não adoecer". Com dois significantes "Lieben und arbeiten", Freud condensa a existência humana: o amor nos mantém investidos libidinalmente, o trabalho nos dá um lugar no tecido social.

Continuar no Brasil seria trair o meu desejo e eu não perdoo auto-traições. Auto-traição adoece.

E foi nesse ponto que eu tomei a minha decisão. Sem que eu me movesse, a balança pendeu sobremodo para um dos lados e eu compreendi que poderia tecer novamente minha esfera social na Itália. Todavia eu não poderia viver em São Paulo desinvestida de amor. Paga-se um preço muito caro por não viver, por não amar.

Para aqueles que deixo, oferto um outro bocadinho de Freud. O pai da psicanálise dizia que por trás de algo terminável há sempre um fundo interminável. Então, queridos, sigo com os nossos intermináveis… levo-os no coração, pois tanta riqueza não caberia nos 23kg da bagagem. Assim vou mais leve... cheia de gratidão, entusiasmo e um pouco de dor. Mas eu vou... É preciso amar para não adoecer.



Bordado feito por mim @broderiepourlavie


2. Tutto bene? (versione italiana)

(Questo testo richiede, nella versione italiana, una breve spiegazione: in Brasile, diciamo automaticamente “Ciao, tutto bene?” a QUALSIASI PERSONA che incontriamo. Sia una situazione formale, sia informale. Dico subito che non ho la più pallida idea del perché… forse potrete dirmelo voi quando avrete finito di leggere.. Buona Lettura!)


Dopo ciao viene tutto bene, giusto? No! Almeno se stai in Italia.



Il mio fidanzato gringo, da quando ha comprato il suo primo biglietto per venire a San Paolo, s'è messo a studiare portoghese like a boss. La linea A della metro di Roma non aveva mai sentito tutti quegli “ãos” nasali che esplicitavano il tentativo frustrato di Andrea nel cercare la sua brasilianeità



In realtà (ho scoperto un po’ di tempo dopo) stava cercando la sua portogalleità, usando l'applicazione versione Lisbona. Ho rimosso l'applicazione senza nessuna pietà dopo aver ascoltato la sequenza “comboio” , “casa de banho” e “RAIOS!”*. Sì, il mio principe romano esprimeva stupore dicendo “raios”. Ho cancellato l'applicazione. Calmatevi, senza offesa! Il Portogallo è bellissimo, la gente è super simpatica, potrei nuotare su dei pastéis de Belém… ma “raios” mi ha ucciso.

Attualmente, lui sta super contento con la sua nuova applicazione brasiliana in cui la voce è di una ragazza sexy di Rio. Win win situation! Vantaggio per me, vantaggio per lui, per il Brasile, per tutti quanti!


Il secondo imbarazzo del mio futuro marito invece l'ha avuto nel momento in cui ha messo i piedi sul suolo brasiliano. Andrea si divertiva con quello che ha chiamato posteriormente “un'americata”. Secondo lui, sarebbe la tendenza a sorridere e a fare domande non necessariamente autentiche. E il Padre Supremo di questa propensione sarebbe il nostro “tudo bem?”. 


“- Perché la cassiere del supermercato mi chiede sempre “tudo bem” e non aspetta la mia risposta? Anzi, che le frega di come sto?”



Sono scoppiata a ridere per la sua ingenua e ilaria sincerità. Andrea aveva ragione. Perché RAIOS diciamo “tudo bem” a degli sconosciuti se non siamo minimamente dediti al loro benessere? Bisogna allontanarsi dal continente per vedere il bizzarro dell’isola. È fighissimo lo sguardo dello straniero!


Insomma, abbiamo avuto un breve dialogo sulla nostra alienazione linguistica e ho fatto una piccola nota mentale per ricordarmi di non saltare per le strade di Roma esclamando “tutto bene?” ai miei futuri fratelli di Patria. Non ha funzionato.


Non mi sono mai messa a saltare! Giuro che mi sono trattenuta! Ma non posso evitare un piccolino “tutto bene” quando il gentile cameriere o la ragazza carina del cinema mi dicono “Buonasera”... Oppure l’indiano che sta illegalmente in Italia supplicando soldi. Poco importa, l’americana che abita il mio corpo vuole chiedere “tutto bene” a tutti. Mi disintossicavo lentamente, ma le conseguenze della mia dipendenza non erano gravi: alcuni sorridevano ma non mi rispondevano... altri più attenti notavano il mio american style e mi rispondevano in inglese (quando un ITALIANO riesce nell'impresa di parlare INGLESE è un segno ? Vuol dire che il mio italiano fa così schifo?) e la vita seguiva il suo corso. Fino a quel giorno.

Quella mattina il mio super-Io, per qualche ragione, era più sciolto. Che ne so… sarà stato il sonno, la letargia invernale (soffro di questa roba) oppure la mia solita disattenzione… so soltanto che la mia tendenza “mi dica como sta but I actually don’t care” scappò:

La vittima della mia scortesia fu un certo signore che entrò nella sala delle conferenze con passo lento, più o meno zoppicante, e decise di mettersi proprio davanti a me. Prima di sedersi, il pover'uomo ebbe la sfortunata idea di lanciarmi un "buongiorno". Innocente! Mi consegnò “il coltello e il formaggio in mano”. Non battei ciglio: "Tutto bene?" Che sfortuna! Il signore iniziò con un "Oh, che gentilezza. Grazie per avermelo chiesto! Deve aver notato che cammino con difficoltà. Quello che è successo è che la settimana scorsa... " e partì a raccontarmi tutti i dettagli del maledetto incidente che gli aveva lasciato quel seguito. Fino a questo punto, tutto ok. Lavoro con delle persone che si lamentano, sono una brava ascoltatrice. Il problema è che il seminario era appena iniziato e la tizia invitata dall'istituzione X prese già possesso del microfono. E il tizio continuava a parlarmi! Ora rispondetemi: come si chiede a un vecchietto dolorante “tutto bene” per poi dirgli di stare zitto??? Non si fa questa cosa!

Cominciai a sentire il mio corpo aumentare la produzione di cortisolo e la mia ansia cresceva mentre provavo a decidere mentalmente: "E mo, Ligia? Cosa facciamo? Vogliamo essere la gringa antipatica che lascia parlare da soli i vecchi oppure la gringa maleducata che parla durante i seminari?" Sono sempre stata una brava allieva; Inutile dire che la prima opzione vinse la mia battaglia mentale. Avevo bisogno di chiudere la bocca al mio nuovo amico senile. Gli offrii il sorriso più dolce che riuscii a fare e gli bisbigliai: “può raccontarmi tutto nella pausa”. Era troppo carino per mostrare la sua frustrazione.

Cercai di prestare attenzione al seminario, ma nel primo quarto d'ora i miei pensieri erano testardi e volevano ricordarmi della potenza distruttiva dell'apparentemente innocuo (non lasciatevi ingannare) tutto bene.

Da quel giorno imparai. Davvero! Lo imparai veramente. I miei genitori mi hanno sempre detto che si impara "attraverso l'amore o il dolore". Nel mio caso e quello del mio collega anziano, entrambi imparammo dal dolore. Lui alla gamba. Io al coração.

* Curiosità linguistica della lingua portoghese: Brasile e Portogallo hanno la stessa lingua, ma hanno espressioni e gerghi diversi. Le espressioni portoghesi fanno ridere i brasiliani e viceversa.
In questo caso:
casa de banho (PT) = banheiro (BR) = bagno (IT)
comboio (PT) = trem (BR) = treno (IT)
* "Raio": letteralmente "raggio" ma va usato in Portogallo per esprimere sorpresa o indignazione. Es: Por que raios com tanta pressa? = Perché diavolo siete così di fretta?
In Brasile non si dice "raios".