lunedì 18 febbraio 2019

1. Ciao

Ciao é beleza em forma de fonema. Nasce com um “c” que tem som de “t” chiado e dilata-se em TRÊS sequenciais vogais abertas. Parece exercício de canto para aquecer a voz! Ou meditação! Ciao… OMMM! Ciao é ótimo.



Ciao não é igual a tchau. Ciao é oi e é tchau sem perder a identidade. O danado é tão versátil que inaugura e fecha diálogos, enunciados e histórias. Ciao é a aigologia dos encontros! É onde todos se reúnem e se despedem… Ou seja, se invertermos a ordem dos colóquios em italiano, fim e início se mantêm. Será ciao o palíndromo das conversas? Voltando pelo mesmo caminho seguramente trombaremos com ele!



Eu trombei com meu primeiro ciao há 11 anos. Trombei literalmente! Na escada da Eurocentres Dublin. Era hype fazer intercâmbio nas férias de julho e meu primeiro verão europeu (nem tão verão assim…) foi na Irlanda. Peço licença para deixar a ensolarada Roma de lado logo assim num primeiro texto, mas percorrer o retorno às vezes envolve um pequeno desvio.

Então lá estava ele… o fruto mais cativante que a bota mediterrânea já gerou me dizendo: “Ciao!”

Meu cérebro lusófono deu tela azul. Quando o rapaz mais bonito da escola de inglês te cumprimenta dizendo “tchau” (foi o que meus ouvidos brasileiros escutaram) é um bom presságio? Ele está te abordando? Ou te dando um fora precoce? Estaria me mandando embora da escola e do continente dele?!
Eu hesito mas respondo: Hi!
Ele insiste, o sorriso ainda mais largo: Ciao!
Não é possível. Ou esse italiano é burro ou está me tirando.

Felizmente eu estava enganada. O italiano em questão é meu atual marido, uma das pessoas mais inteligentes que conheço e não estava me tirando. O que acontecia é que não tínhamos uma língua em comum: as línguas que eu compreendia não eram dominadas por ele e vice-versa, de modo que tudo o que nos unia era aquele singelo, mas não menos poderoso… Ciao!
O que nos sustentava era aquela curta e vocálica palavra. Era ciao no refeitório, ciao na saída do banheiro, ciao na sala de informática (naquela época não tinha Whatsapp; tinha que reservar o computador para mandar E-MAIL para a família. Me sinto um dinossauro)... era ciao para todo lado.
É, não subestimem assim tão levianamente a eficácia de um ciao. Insisto em pensar que nossas atuais conversas profundas, discussões e até litígios jamais seriam possíveis se não houvesse existido um ciao.

Confesso que certa vez me entristeceu a ideia de que a origem de nossa história fosse um termo que se endereçasse sonora e automaticamente à noção de adeus. Sou uma psicanalista estranha, inclinada a crendices...vai que primeira-palavra-com-som-de-tchau dá azar. Vai que.
E aí fui buscar a etimologia da palavra. Pasmem: apesar de ciao ser usado na Itália em situações completamente informais, a palavra deriva do dialeto veneziano s'ciào do latim sclavus. Ou seja, o termo era usado no século XVIII no sentido de “sono suo schiavo” que corresponderia em português à noção servil “estou ao seu dispor”.

Tamanha foi a minha alegria ao descobrir que o “meu ciao!”, a “minha palavra” não tinha nada de banal! Tampouco exprimia o conceito de desfecho. Ao contrário! Originalmente “o meu ciao” é uma reverência respeitosa, uma veneração cortês de adoração ao outro.
Pronto! Agora sim meu comportamento supersticioso poderia dormir em paz. Tudo retomava sua ordem com muito mais conformidade. Afinal, se há algo mais servil, cortês e reverencial que o amor, eu ainda não conheço…

Então ciao!



4 commenti:

  1. Que lindo texto, senti uma emoção profunda em casa palavra, fiquei envolvida o tempo todo.

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  2. Curtindo muito seu lado escritora e suas divagações linguísticas divertidas e inteligentes! Adorei o “Será ciao o palíndromo das conversas?” Hahahha

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    1. hahahah vindo de alguém de Letras é um elogio ainda maior! muito obrigada!

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