mercoledì 12 giugno 2019

15. A Vida na Hora

Hoje é um dia lindo… no instagram. É o dia dos Namorados, dia em que - no meu país natal - se celebra o amor. Os italianos ao meu redor não estão nem atinando para os valentinos, mas meu cuore brasiliano (e minhas redes sociais) me lembram que é dia de amar. Então gostaria de dedicar esse texto a todos que apostam e investem no amor. Sobretudo, gostaria de honrar aqueles que, como eu, foram e são corajosos (ou desequilibrados?) suficientes para amar à distância. Ou, ainda mais, a se mudar por amor.

O sujeito que larga a sua vida inteira - endereço, família, língua madre, sol, amigos, estabilidade, etc (a lista é infinita) - por um outro ser no mundo é... um maluco completo! Um histérico incurável! 

Quando penso que me despedi de avós no fim da vida, encaminhei quarenta pacientes em sofrimento e enfiei meus dois gatos (também em sofrimento) num avião para vir para um país que eu nem gosto tanto, eu tenho vontade de me internar. Ou de me automedicar. Ou mandar caçar o CRP da minha psicóloga… Talvez até dar uma bronca nos meus próprios pais. Quem permite a um ser humano tamanha imprudência?? Não importa que eu tenha 30 anos! Alguém teria que impedir esses atos levianos! Não?

Não. Ninguém impede. O amor tem um non so che cosa que enfeitiça as pessoas! Fica todo mundo doidão, achando tudo maravilhoso e apostável. Vira instagram.

As fotos de flores, jantares e promessas escondem os litígios, omitem os desencontros e travestem as insatisfações. 

Igualmente, a frase - pronunciada entre suspiros, talvez até inveja - “se mudou! Foi embora por amor” oculta toda a dureza da vida como ela é. 

Pensem comigo que o cidadão que “se muda por amor” é tão doido que ele topa pular etapas de um relacionamento que nenhuma criatura em sã consciência faria: O casal passa de um namoro virtual… para o casamento! Cinema de fim-de-semana? Não teve. Férias com a família neurótica? Not. A briga pela arrumação do quarto? Qual quarto? O do hotel? 

Dessa forma, o casalzinho recém-formado se encontra no vestibular da real life sem ter feito curso intensivo! É dirigir sem CFC! Ir para o palco sem ensaio! Competir sem treino! Puta sacanagem!

Mas como haveria de ser?
Alguém precisou se mudar. 
Morar separados? E quem paga o aluguel sozinho com o euro a 4,5?
E quem aguenta o desamparo da (in)adaptação junto à solidão?

Me faz pensar quase nos casamentos arranjados do passado. Ou os atualíssimos matrimônios entre os indianos, muçulmanos ou judeus. Um passo no escuro.

Para eles, uma Fé ferrenha na escolha divina, astrológica e dos genitores.
A nós, ocidentais, se restringe à Fé no amor. A aposta na escolha que, para nossa infelicidade, não foi papai que fez. Nem o do Céu e nem o da Terra. Nossa miséria neurótica não vai poder botar a culpa em ninguém. Nós escolhemos. Então vai lá pagar o preço da escolha…

É de uma coragem Humana! Mais que Divina! É o enfrentamento da vida-como-ela-é MAIS o catalisador da urgência e do não ensaio. É uma coisa absurda!

E as pessoas fazem. Nós fazemos. Eu fiz.

É uma prova de fogo que a foto do Coliseu esconde… mas que é muito mais bela e potente que o Coliseu. É um amor e um investimento colossal.

É uma construção muito mais minuciosa e atenta que os Arcos Romanos. São os nossos arcos e laços que, ao invés de se degradarem, prometem se assentar com o tempo.

É mais sagrado que a Capela Sistina, porque Michelangelo pode planejar… e nós rabiscamos de improviso.

É a coisa mais grandiosa que eu já fiz.

Obrigada aos meus pais, amigos e analista que não me internaram. Que abençoaram a união como um guru hindu e apostaram na nossa sorte. Mas, ainda mais, apostaram na nossa capacidade de restauração. 

Hoje não vai ter meu gringo bonito no Instagram. Vai ter a verdade ao mesmo tempo delicada e cortante de minha poetisa mais sensível e polaca (como meu sangue):

A vida na hora.

Cena sem ensaio.

Corpo sem medida.

Cabeça sem reflexão.

Não sei o papel que desempenho.

Só sei que é meu, impermutável.

De que trata a peça

devo adivinhar já em cena.

Despreparada para a honra de viver, mal posso manter o ritmo que a peça impõe.

Improviso embora me repugne a improvisação.

Tropeço a cada passo no desconhecimento das coisas.

Meu jeito de ser cheira a província.

Meus instintos são amadorismo.

O pavor do palco, me explicando, é tanto mais humilhante.

As circunstâncias atenuantes me parecem cruéis.

Não dá para retirar as palavras e os reflexos, inacabada a contagem das estrelas, o caráter como o casaco às pressas abotoado – eis os efeitos deploráveis desta urgência.

Se eu pudesse ao menos praticar uma quarta-feira antes

ou ao menos repetir uma quinta-feira outra vez!

Mas já se avizinha a sexta com um roteiro que não conheço.

Isso é justo – pergunto

(com a voz rouca

porque nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores).

É ilusório pensar que esta é só uma prova rápida

feita em acomodações provisórias. Não.

De pé em meio à cena vejo como é sólida.

Me impressiona a precisão de cada acessório.

O palco giratório já opera há muito tempo.

Acenderam-se até as mais longínquas nebulosas.

Ah, não tenho dúvida de que é uma estreia.

E o que quer que eu faça, vai se transformar para sempre naquilo que fiz. 


Extraído do livro Poemas, de Wislawa Szymborska, Companhia das Letras



Wislawa Szymborska, poetisa polonesa

6 commenti:

  1. Vc fala em desequilíbrio e eu só consigo pensar que não existe dança se tudo for estabilidade. Feliz dia da entrega, gata!

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  2. Amo seus textos! Cara, que dom escrever assim...

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    1. Que dom ter vc me lendo, isso sim! Quanta saudade amiga!

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