mercoledì 19 giugno 2019

16. Com Darwin no divã

identidade


substantivo feminino

1.qualidade do que é idêntico.
2.conjunto de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la.

Isso é o que aparece na tela quando digitamos “identidade definição” no Google.

Idêntico.

Pois bem, refiz a pesquisa com “identidade etimologia”:

identidade

Origem
⊙ ETIM lat. identitas,ātis, do lat.cl. idem 'o mesmo'

Idêntico. O mesmo. 

E por aí vai, a pesquisa se amplifica: identidade visual, de gênero, cultural...

Impossível não se questionar sobre o que te distingue e te individualiza estando imersa no mar do estrangeirismo.

O Wikcionário disse que é porque eu não sou “o mesmo”;

O policial federal olhou a cor do meu passaporte (a carteira de identidade internacional);

A florista do bairro riu do acento que denunciou o meu sotaque que não era idêntico ao romano ;

Já os amigos italianos se atentaram ao fenótipo e me identificaram com cara de polaca;

O outro rebateu que eu poderia “muito bem ser italiana”. Um mesmo. Um como eles.

Caspita! O que me faz… eu?

Meu sangue é 50% português, 20% italiano, 20% espanhol e 10% polonês. Bom, pelo menos foi isso o que me contaram. Ninguém na minha família foi no Ratinho fazer DNA.

Fora isso, meus antepassados atravessaram oceanos, mudaram de nome e sobrenome, conheceram gente pra dedéu e podem ter transado com essa gente no porão do navio. Tô achando muito difícil essa porcentagem estar tão exata assim...

Para complicar ainda mais, nasci em São BeRnaRdo do Campo. No Brasil.

Amo mandioca, odeio carnaval. O feijão sai bom, mas a caipirinha é um desastre. O biquíni é carioca, o nariz é italiano.

O que é ser brasileiro?

Aqui fica todo mundo frustrado com a minha falta de melanina quando eu revelo o país de origem. Vai explicar pro gringo eurocentrista que o emblema do Brasil é a miscigenação e que a gente fez feira de ciência vestido de Tarantella (quem nunca?) para falar da imigração… Eles só queriam que eu fosse mais preta. Seria menos incômodo.

Pelo menos no samba eu não decepciono! Ficam todos mais tranquilos e acomodados aos seus estereótipos.

É isso que incomoda. A gente busca identidade. Não é só o europeu não. É da condição humana ser gregário, buscar se agrupar, pertencer… e ai de quem trair a ordem!

A União Europeia não quer ninguém ilegal. O couro do documento tem que ser vermelho, mesmo se 500 anos antes eles invadiram as nossas ocas. 

“Desculpe, cadê o visto? Você não é comunitário”. (Eles usam essa palavra para os cidadãos da UE). “Mercosul é na outra fila…”

A gente também não quer ninguém que atrapalhe a ordem. Seja o refugiado africano na Av. São João, seja o aluno de inclusão na sala de aula. O não-comunitário, o não-identitário incomoda.

Tudo bem que é gostosinho ter where to belong. A gente gosta de quem gosta das mesmas músicas da gente, dos ritos, crenças, do partido político da gente. É confortável, não nego.

Mas será que essa obsessão pelos símiles precisa ser tão implacável? É útil isso?

Darwin discorda. Fiquei encantada na semana passada! Estava lendo para palpitar a dissertação de mestrado¹ de uma querida amiga psicanalista sobre o conceito de “adaptação” nas escolas com crianças de até 3 anos. (Sim, adaptação...estou chafurdando nesse assunto por razões óbvias…)

Bom, o texto dela é tão profundo que eu nem ouso citar (ao invés de palpitar, eu aprendi!), mas vos trago porque fiquei sensibilizada com o paralelo traçado com a Evolução das Espécies de Darwin.

O pai da Teoria Evolucionista é um dos grandes mestres da ciência a falar de adaptação e minha colega psicóloga lança mão de seus conceitos para mostrar que, por mais que a evolução das espécies se dê pela perpetuação da genética (sempre a mesma) dos mais aptos ao meio; é justamente na desadaptação - na falha, nas mutações genéticas - que é possível forjar uma nova espécie não identitária e mais interessante de outro ponto de vista. 

Sacou aonde eu tô querendo chegar?

A identidade é esse vestígio passível de contorno e definição nessas adaptações e desadaptações que fazem a evolução. A identidade - pelo menos para mim - nunca está dada.

E a graça do negócio é essa! Tem horas que a gente se aliena infantil e confortavelmente na identificação dos símiles para posteriormente se desadaptar (fazer nossas mutações!) e seguir construindo novas identidades.

Eu nunca serei italiana. E a minha identidade brasileira reside aí: Só consigo escrever em português, meus gatos miam em português e agora aqui em casa só se fala português. 

Minha identidade está no Caetano cantando um baianês aberto no Spotify e no grito incontido com o gol da Marta ontem à noite (contra a Itália!hihihi)

Mas não me furtarei de fazer minhas mutações e permutas. A Ciência já me contou que é no remodelamento que a mágica acontece… seja ela qual for.

E meu amor me mostrou que é na com-posição que se constrói identidades. Ele vai no piano de Vivaldi. Eu vou na voz de Elis. Quem sabe não fazemos a nova bossa nova?

Queremos ter uns dez filhos: um em cada país. Um de cada jeito. Matteo Salvini não gosta. Mas Charles Darwin adora.

¹ Dissertação de mestrado ainda não foi defendida e publicada. Quando for a ocasião, citarei o nome da autora e título da dissertação para quem se interessar em aprofundar o tema. Aqui - se tratando de um blog informal - foi apenas extraída a minha releitura para embasar a crônica. O texto em questão é muitíssimo mais rico e teórico. Aguardem!


Darwin Political Cartoon from Pinterest




1 commento: