mercoledì 29 maggio 2019

14. O Aedes e a coragem


Expatriado é foda. Se fosse só bom, não começava com “ex”...

É muito glamour comer mirtilo.;
Mega poético saber que meu rolê baixa renda é um cornetto ao pé do Coliseu;
Aprecio caminhadas noturnas sem risco de estupro;
E amo a qualidade de vida europeia. Amo.

Só que ser forasteiro tem lado B.
Fora-steiro não está por dentro. Fora-steiro é estranho. É FORA. É margem. É confim.
Com fim.

Fim da terra. Fim da linha. Limites, fronteiras, raia, divisa. 

O que te traz aqui? E o que te faz ficar?

Tenho amigos por toda a Europa e digo empiricamente que ela nos testa: O Velho Continente é um Deus brabo do tipo Velho Testamento: tentador, punitivo, castrador. Não vacila! Veremos se ele nos aceita ou nos bane para sempre do Paraíso...

Escolhi o pior país para equivaler meu diploma: estão querendo jogar meus 12 anos de estudos e 9 de prática no lixo, porque a lei soberana dos psicoterapeutas do Lazio acham que só na Bota se faz Psicologia… affanculo os saberes (que não é sinônimo de conhecimento) e a Psicanálise laica de Freud. Aliás, laicismo aqui tá difícil…

Vamos à lista de meus brasileiros corajosos espalhados e apanhando nesse mundão:

Minha amiga e colega de formação, especialista em neuro e hospitalar que mora na Áustria passou um sufoco para uma equivalência que a permitiu FINALMENTE ser… assistente de professora infantil! 
Oi? Vocês estão de sacanagem?
Nada contra a educação infantil! Aliás, estamos levantando bandeiras nesses tempos sombrios…. Mas vocês têm noção da qualificação dessa mulher para colocá-la como assistente?

Outra amiga no Reino Unido tomou um esculacho com tom pomposo e superior de um policial londrino por atrasar uma notificação de residência. Saiu chorando humilhada de lá…

Fui fotografada e fichada na imigração da Irlanda aos 18 anos por ser jovem, brasileira e viajar sozinha. Suspeita de prostituição ilegal. “Se você não sair daqui em um mês, nós vamos atrás de você e te mandamos de volta para o seu país!"

É o visto que não chega, a cidadania que não sai, o trabalho que não vem...

Apanhamos para pedir uma pomada de herpes na Alemanha. Apanhamos para entender qual o ônibus certo a tomar… 

Fincar-se na terra do outro é se obrigar a germinar em terra infecunda.
É repetir seu nome milhões de vezes. E um nome não é pouca coisa…
É competir com o nativo que - pode até ter um currículo menos interessante - mas, pelo menos o curso dele, o entrevistador sabe pronunciar…
É ter que provar para a Polícia Federal que seu amor é real e evidenciar que o casamento não é fachada…

Ser FORAsteiro é se bancar e se fazer valer DENTRO do ninho do outro. É de uma coragem absurda. Mas a gente dá conta.

Conversando sobre isso com minha melhor amiga (também expatriada) ela me citou a frase de seu namorado mineiro (e todo mineiro é adoravelmente engraçado! Então preparem-se!):

“Ingleses, vocês sabem da onde eu venho? No país de onde eu venho UM ÚNICO mosquito passa TRÊS DOENÇAS!”

Explodi de rir! 


É isso, cara Europa! Você acha que a ameaça nos detém? Que a dificuldade nos marginaliza? Oh dear, nós somos vacinados (literalmente). E se vier nos visitar, melhor se vacinar também...


O Aedes aegypti é a personificação da resiliência brasileira! A gente cria anticorpos. A gente se faz valer. Don’t mess with us.

Podem vir quentes que estamos fervendo.... 

E não é febre amarela! É de coragem!







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