martedì 7 maggio 2019

12. Informal is the new black

Tenho amigos ótimos. Ótimos é pouco. Temos o dom do divertimento minimalista. Apenas estar na presença deles já é um bálsamo, não precisamos de mais nada. E, ao escrever esse texto, sorrio e me emociono ao mesmo tempo; não vejo a hora de ir para o Brasil abraçar todos aqueles bocós. 

Pessoas queridas em SP é o que não falta, mas aqui estou falando particularmente do meu grupo de infância. Tem gente lá com quem já fiz até bodas de prata de amizade. A convivência e a intimidade são as coisas mais bonitas que existe, porque te faz relaxar perto de quem se ama. Com eles posso fazer tudo ou nada, posso recebê-los de pijama, posso praticar naturismo, possa lamber o rosto deles (é sério). O amor prevalece.

Veja só, a familiaridade é tanta que viajar com eles é tipo viajar com a família, mas sem a chatice da família! É uma win win situation! E é assim que a gente gosta: amizade informal. Vale ter uma fase grude, mas vale ficar meses sem se falar. Vale fazer homenagem de data festiva e vale igualmente esquecer o aniversário. Sem cobranças. Vale amar e vale mandar tomar no c… como é leve ter vocês! 

E é leve inclusive de calorias! Organizar um evento nunca foi para nós. Para que pensar em jantar? “Passa no posto e traz a cerveja, depois a gente racha”. Alguém leva o “Perfil”? Ou vamos de “Imagem e Ação”? A única vez que tentamos fazer guacamole, virou guacadura. “Vamos pedir pizza?”

Rolê baixa renda? Nós! Viagem barata? Nós! Cobrar amigo caloteiro? Nós! 

Coisa linda de fluir… Tudo flui. Único conflito da trip é a antiga guerra Toddy x Nescau… feia essa briga, mas em tempos de ódio buscamos ser democráticos. 

Todo esse mela-cueca fraternal para dizer que informal is the new black. Óbvio? Não para os italianos.

Estou um pouco chocada com as formalidades. Ainda que os romanos sejam puro amor, abraçadeiros (adoro!) e muitíssimo parecidos conosco, tem algo de uma formalidade ali que não me convence.

Para começar, o piacere no primeiro contato (mesmo entre jovens!!!) é um caloroso… aperto de mão! Nada de beijinho, abracinho… “vamos respeitar a lei do eu-não-te-conheço e pouparmos os nossos rostos”. Acho chato. E daí que você nunca viu a pessoa? Cumprimenta, pô! São só duas bochechas se tocando!

Segundo ponto é uma “etiqueta da amizade” na qual alguém paga a conta. UM ÚNICO alguém. O conceito - na teoria - é bacana: um dos amigos “oferece” (como eles dizem aqui) o café e paga a conta, de modo que vocês tenham uma “desculpa” para marcar outra vez e aí será você quem pagará o café. Não sei a razão, mas é assim que funciona. Talvez os italianos sejam fracos de matemática, talvez preguiçosos, talvez extremamente gentis e seja eu a cricri. A ideia é fofinha, mas na prática eu ainda prefiro mil vezes o esquema de rachar. 
Quem nesse mundo atarefado vai lembrar quem pagou na última vez? 
Fora que fica uma tensãozinha para ver quem vai oferecer:

- “No, offro io”
- “Ma che! offro io!”

Gente, chega de oferta! A vida já tem muita ansiedade para vocês inventarem mais uma!

Outro dia, a amiga do Andrea pagou meu ônibus! O ônibus! Caríssima, se alguém deveria pagar meu transporte é o Estado, não você. Mas grazie mille, gentilissima. É muito cortesia, acho uma graça! Mas não sei lidar! Será que agora eu tenho que chamá-la para um rolê de metrô e fazê-la passar na catraca? Estaremos quites?

O terceiro aspecto é o mais grave de todos e com o qual tenho uma relação ambivalente: la cena. O célebre jantar na casa dos amigos. Para começar, se alguém te chamou para um jantar, seria desejável que você levasse algo. Flores, a sobremesa, um vinho… sei lá! Não se apresente de mãos abanando que é gaffe. Pequeno parêntese: Eu consegui fazer gaffe até de mãos cheias: levei um vinho sul-africano para um jantar nos meus sogros. Sim, sou ingênua e desatenta ao bairrismo italiano. Não consigo descrever as sobrancelhas erguidas de meu sogro quando viu um rinoceronte no rótulo da bebida. Certamente ele esperaria qualquer região da Itália, mas jamais um produto de outro continente. Fica a dica!

Voltando ao jantar dos amici, devo dizer que são eventos profissionais dignos de Master Chef. No último deles em que fui, havia algumas opções de antipasti com vinho branco enquanto o primo piatto estava ainda no forno. Tentei não me matar de comer queijo e azeitona enquanto esperava.
Eis o primo: pasta cacio e pepe. Uma massa tradicionalmente romana saborosíssima.
Quando todos terminamos, a elegantérrima anfitriã nos surpreendeu com o secondo piatto: peixe espada com rúcula e um molhinho bom sei-lá-do-quê. Um deleite.
E para fechar com glamour, il dessert: tacinhas individuais de chessecake artesanal com mascarpone veramente italiano. Achei chiquérrimo. 

Mais chiquérrimo ainda eram todos aqueles nativos opinando sobre os pratos, tecendo elogios e críticas, todos com seus paladares historicamente desenvolvidos por suas mamma’s. Eu e meu requinte brasilieiro só conseguíamos achar tudo gostoso e pensar na sofisticação daquele “rolê da galera”. Lembrei do meu último jantar com a galera de SP no carnaval: batemos um sanduba do Z Deli em casa, enquanto a maioria de meus amigos se esbofeteavam por uma tequila com um verme. Sim, um verme. Era uma tequila mexicana daquelas que têm um “verme da sorte” e quem conseguir (grande feito!) comê-lo terá bem-aventurança sem limites. Meus amigos esquartejaram o animal tamanha era a competição, até os vegetarianos (hipócritas!) se renderam…

Fiquei mentalmente comparando o cheesecake ao verme. O jogo de talheres aos guardanapos sujos de hambúrguer. O aperto de mão aos abraços de urso.

Amo me sentir num restaurante 5 estrelas Michelin quando vou simplesmente ver amigos por aqui. Sou boa de garfo e me regozijo. Mas hoje - mentira, não é só hoje - a saudade está grande e eu daria tudo por um verme. Tudo por vocês que me leem aí do outro lado do oceano provavelmente comendo um açaí com os dentes sujos de roxo. E tudo bem estar sujo. Porque amigos são família. E que se danem as formalidades.




2 commenti:

  1. Adoro seus textos! Sempre me divirto muito!
    E adoraria comer outro açaí com vc e deixar os dentes sujos de roxo! Hahahah
    Beijos

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