mercoledì 1 maggio 2019

11. Na dúvida, vai-a pé

Sou um gênio. Tomei duas multas em menos de um mês. Isso significará uns 150 euros a menos e um rombo em meu orçamento; provavelmente passarei o mês à base de pão e vinho, como faziam os italianos nos tempos de guerra. Eu também estou em guerra… contra a ATAC (Agenzia del trasporto autoferrotranviario del Comune di Roma). 

A regra é simples: para que simplificar se podemos complicar?

Digo que os romanos não sabem dirigir; meu namorado defende outro ponto de vista: “Nós somos criativos, é só isso. Somos artistas do trânsito!”. Aqui metade das vagas são proibidas e a outra metade é “inventada”. Há os lugares proibidos que resultam em multa e os lugares - também proibidos - porém para os quais os guardinhas de trânsito fecham os olhos... e aqui é possível criar! Vagas ilegítimas, mas com a concessão de serem telas em branco nas quais o artista (vulgo cidadão-corrupto-sem-noção) pode deixar emergir a fantasia e pintar sua obra. Vale tudo! Estacionar no sentido oposto, na diagonal, em cima da calçada, de ponta-cabeça… o que importa é o fiscal curtir a sua arte e te absolver. O “jeitinho brasileiro” fica timido perto da ousadia dessa gente .

O duro é que para entender essa (i)lógica demanda tempo! Eles nascem sabendo; nós, expatriados brasileiros sofredores, temos que comer muito arroz e feijão (ou talvez lasanha?) para chegar lá. Temerosa, verifiquei em um site sobre mobilidade em cidades grandes italianas. Fala se não parece pegadinha:

Ausência de faixa no asfalto: teoricamente livre e gratuita, mas depende se “é lugar autorizado e que não invada a circulação”, então o site te recomenda: melhor não (oi?);

Faixa branca no asfalto: pode estacionar de boa (vai achar uma dessa);

Faixa amarela: faixa de difícil interpretação. Disponível para residentes, trabalhadores, inválidos e pessoas que possuam a permissão da Comune. Entretanto, não há nenhuma placa horizontal especificando o que é compreendido por “pessoas autorizadas”. (Como faço para saber se me enquadro em residente? Trabalhadora? Inválida?!);

Faixa azul: faixa permitida mas sujeita a pagamento. Seria o nosso Parquímetro. No caso deles “Parcômetro” (tô falando que parece piada).

Estou quase desenvolvendo uma fobia viária e estacionamentária. Outro dia tomei bronca do marito porque parei rapidinho na faixa amarela (comigo dentro do carro, caso precisasse manobrar...):

“Caramba, amor! Na amarela não. Quando você não achar vaga, para em fila dupla no meio da rua…daí é tranquilo”.

Oi? Não posso parar na frente de um muro porque tem cor de ovo no chão mas posso parar em fila dupla? Não posso parar aqui na minha guia não rebaixada e vocês param em cima da calçada? Não posso ficar aqui dentro do carro te esperando enquanto tem três caras sem capacete na mesma moto em Napoli? 

Eu desisto.

Há o ditado errôneo que diz “Quem tem boca vai a Roma”. Não, não vai. O ditado é inverídico duplamente. Primeiramente, porque foi deturpado por uma confusão sonora e, segundo, porque quem tem boca vai a qualquer lugar, menos a Roma! Para ir a Roma, camarada, precisa ter boca, apólice do carro, seguro de vida e muita cara de pau (e, no meu caso, dinheiro… para pagar essas autuações todas).

Já o ditado legítimo “Quem tem boca vaia Roma” já demonstra mais coerência. É justamente isso que as pessoas faziam em relação aos “deslizes” dos imperadores e as formas de governo que definhavam o império: vaiavam Roma. Vaiar é testemunho de repreensão, corretivo. A gente vaia para dizer que não concorda, que não está legal.

Mi dispiace, cara Roma. Preciso te vaiar. Preciso vaiar as buzinas e xingamentos que tomei. Vaiar as faixas imprecisas. Vaiar a falta de civilidade e segurança. Amo você. Juro. Outro dia falei bem dos seus morangos. Mas hoje estou chateada, você vacilou.

Vaiem Roma comigo, mas não deixem de vir. Venham com suas bocas e corações e seguros-saúde. Roma é maravilhosa. Mas, na dúvida, vai-a pé.





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