martedì 26 febbraio 2019

2. Tutto bene?

Depois do “oi” vem o “tudo bem”, certo? Errado! Ao menos se você estiver na Itália. 

Meu namorado gringo, desde que comprou sua primeira passagem para São Paulo, se pôs a estudar português like a boss. A linha A do metrô de Roma nunca ouviu tantos “ãos” anasalados na tentativa frustrada de Andrea ao buscar sua brasilidade. Na verdade, descobri pouco depois que ele estava buscando sua lusofonia, usando o aplicativo versão português de Portugal. Desinstalei o aplicativo sem piedade depois de ouvir a sequência “comboio , casa de banho” e - preparem-se - “RAIOS!”. Sim, meu príncipe romano estava expressando maravilhamento e sobressalto dizendo “raios”. Deletei o aplicativo. Calma, sem ofensa! Portugal é linda, eu amo os portugueses, rolaria em pastéis de nata… mas “raios” não dá. Atualmente ele está super feliz com seu novo aplicativo brasileiro-com-voz-de-moça-carioca-sexy. Todos saímos ganhando.



O segundo embaraço de meu futuro marido já foi em terras brasileiras. Andrea se divertia com o que chamou posteriormente de “una cosa americana”. Segundo ele, seria uma tendência a sorrisos, perguntas e expressões não necessariamente autênticos cujo Pai Supremo seria o nosso “tudo bem?”.

“- Por que a caixa do supermercado me pergunta sempre se eu estou bem e não espera para ouvir a resposta? Aliás, ela realmente se importa como eu estou?”

Eu me desfiz em gargalhadas com a sua ingênua e hilária sinceridade. Andrea estava certo. Por que RAIOS dizemos “tudo bem” a desconhecidos se não estamos minimamente devotados ao seu bem-estar? É preciso se afastar do continente para ver as bizarrices da ilha. É bacanérrimo o olhar do estrangeiro, não canso de me surpreender!

Enfim, tivemos um breve diálogo sobre a nossa alienação linguística e fiz uma pequena nota mental para me recordar de não sair saltitando pela Piazza Navona exclamando “tutto bene?” a meus futuros irmãos de Pátria. Não funcionou.

Não saltitei, juro. Mas não consigo me furtar a um piccolino “tutto bene” quando o garçom simpático me diz “Buonasera”... ou a moça fofa do cinema! Ou o indiano que está ilegal em Roma pedindo esmolas. Pouco importa, a americana que habita meu corpo quer dizer tutto bene a todos. Estava sendo um exercício diário de desintoxicação. As consequências não eram muito graves: alguns sorriam, não respondiam… outros mais atenciosos notavam meu american style e me respondiam em inglês (quando ITALIANO se mete a falar INGLÊS você sabe que seu italiano está nível “Terra Nostra”) mas a vida seguia. Até aquele dia.

Pois bem, naquele dia o meu superego por alguma razão estava mais frouxo. Sei lá se era sono, letargia invernal (sofro disso) ou minha habitual desatenção… só sei que minha tendência “me diga como você está but I actually don’t care” escapou.

A vítima de minha grosseria foi certo senhor que adentrou a sala de conferências com um passo lento, mais precisamente mancando, e decidiu se sentar justamente na minha frente. Antes de se sentar, o pobrezinho teve a infeliz ideia de lançar-me um “buongiorno”. Inocente! Me deu a faca e o queijo na mão. Não pestanejei: “Tutto bene?” Que infortúnio! O sujeito iniciou com um “ah, que gentileza. Obrigado por perguntar! A senhorita deve ter notado que estou andando com dificuldade. O que aconteceu foi que na semana passada…” e desatou a me contar todos os detalhes do maledetto acidente que havia deixado aquela sequela. Até aí tudo ok. Trabalho com gente que se lamenta, sou boa ouvinte. O problema é que o seminário estava começando e a italiana convidada da instituição XYZ já se apossava do microfone. E o cara continuava a falar comigo! Agora vocês me respondem: como se pergunta “tudo bem” para um senhor fofinho acidentado e logo em seguida se manda o brother calar a boca?? Isso não se faz! 

Comecei a sentir meu organismo aumentando sua produção de cortisol e minha ansiedade crescendo enquanto eu decidia mentalmente: “E agora, Ligia? O que fazemos? Queremos ser a gringa mal-educada que dispensa velhinhos ou a gringa mal-educada que fala durante seminários?”. Sempre fui boa aluna; inútil dizer que a primeira opção venceu minha batalha mental. Precisava calar meu novo amigo senil. Esbocei o sorriso mais doce que consegui e cochichei um simpático: “continuamos a conversar no intervalo”. Ele era fofo demais para deixar transparecer a frustração.

Tentei prestar atenção no seminário, mas no primeiro um quarto de hora meus pensamentos teimavam em me recordar da potência destruidora do aparentemente (não se deixem enganar) inofensivo tutto bene.

A partir daquele dia aprendi. De verdade. Aprendi para valer. Meus pais sempre me disseram que se aprende “pelo amor ou pela dor”. No meu caso e de meu colega idoso, ambos aprendemos pela dor. Ele na perna. Eu no cuore.





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