venerdì 13 dicembre 2019

24. Dimora

Embarco amanhã para o Brasil para passar as festas de fim de ano. Quanta demora! Depois de nove meses de Roma a minha saudade não aguenta mais a gestação! Não dá mais para morar só dentro de mim tanto amor tropical, tanto amigo pra ver, tanto raio de sol! Hoje cedo nevou em Torino… tô fora! Acabei de passar o zíper na mala, sem demora! Vai que a neve se alastra e me alcança os calcanhares antes que eles deixem o solo italiano...vai quê. Mas ainda preciso dormir, preciso comprar o Grana Padano da Ana, o vinho do nonno. Por que tanto tempo?

A escala é de 10 horas em Istambul!!Dez horas! Pois é, falando em demora...

Demorar é um verbo curioso. Já tentou falar “demorar” em outra língua? Com uma só palavra. Roubalhão! Expressão não vale!

Provavelmente você chegou em algo como “tomar muito tempo”, “atrasar”, “adiar”... nope! Não aceito. Nada disso é demorar. Demorar é lindo demais… e é complexo. Você seguramente demoraria a encontrar um sinônimo para a demora… De bate-pronto a única possibilidade é o fracasso. Porque na demora não se pode ir apressado. É preciso habitar esse termo, residir em suas sílabas até encontrar alguma saída demorada. De morada.

Em italiano, “demorar” não existe. Não que eles sejam ágeis ou pontuais. Muito pelo contrário! Mas o verbo é inexistente. Dir-se-ia que uma atividade atrasa, dura… ou então que é preciso tanto tempo para executá-la. Que se quer tanto tempo para fazê-la. Tudo muito intuitivo, muito bonitinho... mas demora mesmo que é bom, nada!

Entretanto, existe “dimora”. Dimora em italiano é a morada. Dimora de morada, demorada. Obviamente, não é preciso muito para sacar que “demora” e “dimora” possuem ambas a mesmo etimologia latina “demorare" que, por sua vez, significa habitar de maneira mais ou menos estável um lugar, estabelecer-se, demorar-se.

Se você vai passar só uns diazinhos na cidade e vai ficar num hotel, semanticamente aquela não pode absolutamente ser a sua dimora. No, assolutamente! A morada implica um alastrar-se, delongar-se...temporizar. A morada, para os linguistas, implica demora. Demora para morar.

Demora para aprender a língua, para conseguir os documentos. Demora para conseguir o diploma e o trabalho. Demora para fazer amigos. Demora para amar. O amor demora.

Depois de quase dez meses, talvez eu ainda não tenha conseguido fazer de Roma um lar. Não me demorei o bastante. Talvez também por isso minha enorme animação em passar férias em casa (essa sim) onde vivi quase três décadas.

Nós, expatriados, queremos que o lar se constitua no tempo de nossos desejos. Mas aí vem o latim (te amo, latim) e nos conta que a tempistica aqui é outra. 

Não é pra já...mas já inicia a demorar-se… E assim se faz molto piano a minha morada, nas curvas do tempo deRoma... ops, demora.







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